domingo, 22 de março de 2020

O sábio Sócrates


“A vida não examinada não vale a pena ser vivida pelo homem”. Essa frase é atribuída a Sócrates, o filósofo que marcou a história por ter sido responsável por trazer a filosofia dos Céus à Terra.
Antes de Sócrates, os chamados filósofos pré-socráticos versavam sobre a physis, ou seja, a natureza e seus princípios animados (terra, fogo, água, ar, éter).
O famoso Óraculo de Delfos na Grécia, tinha inscrito a célebre frase: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. Sócrates foi um exímio defensor do autoconhecimento, dedicando sua vida para tentar entender sua própria natureza e acreditava que aquele que pratica o mal, o faz por ignorância, sobretudo de si mesmo, de suas inclinações, suas qualidades, defeitos, etc.
Nesse sentido, diz-se que Sócrates foi o filósofo responsável por trazer a filosofia dos Céus à Terra. Foi um filósofo peculiar, na medida em que sua filosofia era vida, original e direcionada a todos, tanto que Sócrates dialogava com qualquer pessoa e em praça pública, fazendo uso de seu método denominado maiêutica, a qual consistia em levar o indivíduo a tomar ciência de que não sabia o que achava que sabia, desconstruindo assim seus conceitos, ou antes, pré-conceitos e por fim, conceber novas ideias a respeito da questão, mudando assim sua forma de percepção da realidade.
Maiêutica significa parteira em grego, e em homenagem a profissão de sua mãe, a qual era parteira, e compreendendo sua tarefa, Sócrates dar o mesmo nome ao seu método pois assim como uma parteira dar todo auxilio que culmina no nascimento de uma criança, auxilio esse que inclusive implica na amenização da dor da mulher que está a dar a luz, ele na condição de filósofo, a partir de sua conversação e perguntas, auxilia seu interlocutor a dar a luz a novas ideias, as quais sempre estiverem dentro dele.
Assim, podemos compreender que o conhecimento não é algo que vem de fora para dentro, logo a missão de Sócrates enquanto filósofo não era ensinar, mas auxiliar na quebra de preconceitos do seu interlocutor, que ao se julgar sabedor de algo, privava-se de ir além, e de conceber novas ideias a respeito do assunto, ao que temos a célebre frase de Sócrates: “só sei que nada sei”.
Conta a história que um amigo de Sócrates resolveu ir ao Oráculo de Delfos e fez uma pergunta a sacerdotisa, inquirindo-a sobre quem era o homem mais sábio da Grécia, ao que essa lhe respondeu que esse era Sócrates. Quando o amigo do filósofo lhe relatou o ocorrido, Sócrates considerou um equívoco da sacerdotisa o considerar o homem mais sábio, tendo em vista o fato de que ele próprio se considerava o que menos sabia.
No entanto, a medida em que Sócrates continuava na sua empreitada de dialogar com as pessoas empregando a maiêutica, foi se dando conta de que a sacerdotisa do Oráculo de Delfos estava certa, não porque de fato ele soubesse de algo, mas porque todas as outras pessoas, desde autoridades políticas, a outros filósofos, até pessoas comuns, consideravam que sabiam de algo e no fim das contas se viam em equívoco, enquanto Sócrates era o único que tinha a certeza de que nada sabia.
São dois importantes legados que nos deixa Sócrates, o do autoconhecimento, sendo ele mesmo exemplo vivo da importância da busca por se conhecer, da percepção de suas limitações, de seus pré-conceitos, defeitos, qualidades, etc., obviamente com o intuito de estar se construindo, se melhorando, refletindo sempre e se examinando. E o outro o legado de se ter a humildade necessária para que se possa estar vivendo uma vida de constante aprendizado, não permitindo que se crie conceitos que logo se tornarão barreira para novos aprendizados, esses que vem de dentro de nós, resultantes de nossas experiências, de nossa própria vida.
Mesmo no momento de sua morte, Sócrates deixa uma última grande lição, a qual nos remete a frase do início: “A vida não examinada não vale a pena ser vivida pelo homem”. O fato é que como Sócrates estava cada vez mais levando as pessoas a refletirem sobre sua própria ignorância, inclusive as autoridades atenienses, esses com receio de perderem essa pretensa autoridade diante do povo, não podiam conviver com a ideia de se desapegarem daquele modelo de vida que construíram, ainda que se tratasse de um modelo ilusório.
De modo a se livrarem de Sócrates, submeteram-no a julgamento, acusando-o de desrespeito aos deuses da cidade e de corromper a juventude com suas ideias, sobretudo porque não era um sofista, àqueles que cobravam para ensinar as pessoas conhecimentos gerais, gramática, retórica, política, etc., pois Sócrates não cobrava nada por sua atividade.
Ao ser julgado, Sócrates teve a oportunidade de escapar da morte, pois poderia escolhe o exilio, assim àqueles que o condenavam só queriam se livrar dele, no entanto, o filósofo assumiu um propósito de existência, algo que lhe vinha do âmago, de tal forma que não seria capaz de abandonar esse propósito, correndo o risco de ter sua vida esvaziada de todo o sentido. Na realidade, para Sócrates, deixar de filosofar, de andar pelas ruas a fim de persuadir seus concidadãos, moços e velhos, a não se preocupar nem com o corpo nem com a fortuna tão apaixonadamente quanto com a alma, a fim de torná-la tão boa quanto possível, era pior que a própria morte.
Se os filósofos pré-socráticos passaram tanto tempo discutindo sobre o princípio que anima ou da origem a natureza, Sócrates sabia que o princípio que lhe animava, que fazia com que sua vida fosse digna de ser vivida, era a filosofia, era a maiêutica.

Sócrates foi o filósofo por excelência, o qual ensinou não um conhecimento específico, mas onde está esse conhecimento: dentro de cada um de nós, e ensinou que era preciso se questionar, refletir, estar disposto acima de tudo a reconhecer que se está errado, e ainda assim não desistir de se questionar, de buscar, pois depois da dor de se reconhecer no erro e no engano dos pré-conceitos, eis que virá à luz novas ideias, em um processo continuo de iluminação do mundo, o nosso próprio mundo interno.

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