“A
vida não examinada não vale a pena ser vivida pelo homem”. Essa frase é
atribuída a Sócrates, o filósofo que marcou a história por ter sido responsável
por trazer a filosofia dos Céus à Terra.
Antes
de Sócrates, os chamados filósofos pré-socráticos versavam sobre a physis, ou seja, a natureza e seus
princípios animados (terra, fogo, água, ar, éter).
O
famoso Óraculo de Delfos na Grécia, tinha inscrito a célebre frase: “Conhece-te
a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. Sócrates foi um exímio
defensor do autoconhecimento, dedicando sua vida para tentar entender sua
própria natureza e acreditava que aquele que pratica o mal, o faz por
ignorância, sobretudo de si mesmo, de suas inclinações, suas qualidades,
defeitos, etc.
Nesse
sentido, diz-se que Sócrates foi o filósofo responsável por trazer a filosofia
dos Céus à Terra. Foi um filósofo peculiar, na medida em que sua filosofia era
vida, original e direcionada a todos, tanto que Sócrates dialogava com qualquer
pessoa e em praça pública, fazendo uso de seu método denominado maiêutica, a qual consistia em levar o
indivíduo a tomar ciência de que não sabia o que achava que sabia,
desconstruindo assim seus conceitos, ou antes, pré-conceitos e por fim,
conceber novas ideias a respeito da questão, mudando assim sua forma de
percepção da realidade.
Maiêutica
significa parteira em grego, e em homenagem a profissão de sua mãe, a qual era
parteira, e compreendendo sua tarefa, Sócrates dar o mesmo nome ao seu método
pois assim como uma parteira dar todo auxilio que culmina no nascimento de uma
criança, auxilio esse que inclusive implica na amenização da dor da mulher que
está a dar a luz, ele na condição de filósofo, a partir de sua conversação e
perguntas, auxilia seu interlocutor a dar a luz a novas ideias, as quais sempre
estiverem dentro dele.
Assim,
podemos compreender que o conhecimento não é algo que vem de fora para dentro,
logo a missão de Sócrates enquanto filósofo não era ensinar, mas auxiliar na
quebra de preconceitos do seu interlocutor, que ao se julgar sabedor de algo,
privava-se de ir além, e de conceber novas ideias a respeito do assunto, ao que
temos a célebre frase de Sócrates: “só sei que nada sei”.
Conta
a história que um amigo de Sócrates resolveu ir ao Oráculo de Delfos e fez uma
pergunta a sacerdotisa, inquirindo-a sobre quem era o homem mais sábio da
Grécia, ao que essa lhe respondeu que esse era Sócrates. Quando o amigo do
filósofo lhe relatou o ocorrido, Sócrates considerou um equívoco da sacerdotisa
o considerar o homem mais sábio, tendo em vista o fato de que ele próprio se
considerava o que menos sabia.
No
entanto, a medida em que Sócrates continuava na sua empreitada de dialogar com
as pessoas empregando a maiêutica,
foi se dando conta de que a sacerdotisa do Oráculo de Delfos estava certa, não
porque de fato ele soubesse de algo, mas porque todas as outras pessoas, desde
autoridades políticas, a outros filósofos, até pessoas comuns, consideravam que
sabiam de algo e no fim das contas se viam em equívoco, enquanto Sócrates era o
único que tinha a certeza de que nada sabia.
São
dois importantes legados que nos deixa Sócrates, o do autoconhecimento, sendo
ele mesmo exemplo vivo da importância da busca por se conhecer, da percepção de
suas limitações, de seus pré-conceitos, defeitos, qualidades, etc., obviamente
com o intuito de estar se construindo, se melhorando, refletindo sempre e se
examinando. E o outro o legado de se ter a humildade necessária para que se
possa estar vivendo uma vida de constante aprendizado, não permitindo que se
crie conceitos que logo se tornarão barreira para novos aprendizados, esses que
vem de dentro de nós, resultantes de nossas experiências, de nossa própria
vida.
Mesmo
no momento de sua morte, Sócrates deixa uma última grande lição, a qual nos
remete a frase do início: “A vida não examinada não vale a pena ser vivida pelo
homem”. O fato é que como Sócrates estava cada vez mais levando as pessoas a
refletirem sobre sua própria ignorância, inclusive as autoridades atenienses,
esses com receio de perderem essa pretensa autoridade diante do povo, não
podiam conviver com a ideia de se desapegarem daquele modelo de vida que
construíram, ainda que se tratasse de um modelo ilusório.
De
modo a se livrarem de Sócrates, submeteram-no a julgamento, acusando-o de desrespeito
aos deuses da cidade e de corromper a juventude com suas ideias, sobretudo
porque não era um sofista, àqueles
que cobravam para ensinar as pessoas conhecimentos gerais, gramática, retórica,
política, etc., pois Sócrates não cobrava nada por sua atividade.
Ao
ser julgado, Sócrates teve a oportunidade de escapar da morte, pois poderia
escolhe o exilio, assim àqueles que o condenavam só queriam se livrar dele, no
entanto, o filósofo assumiu um propósito de existência, algo que lhe vinha do
âmago, de tal forma que não seria capaz de abandonar esse propósito, correndo o
risco de ter sua vida esvaziada de todo o sentido. Na realidade, para Sócrates,
deixar de filosofar, de andar pelas ruas a fim de persuadir seus concidadãos,
moços e velhos, a não se preocupar nem com o corpo nem com a fortuna tão
apaixonadamente quanto com a alma, a fim de torná-la tão boa quanto possível,
era pior que a própria morte.
Se
os filósofos pré-socráticos passaram tanto tempo discutindo sobre o princípio
que anima ou da origem a natureza, Sócrates sabia que o princípio que lhe
animava, que fazia com que sua vida fosse digna de ser vivida, era a filosofia,
era a maiêutica.
Sócrates
foi o filósofo por excelência, o qual ensinou não um conhecimento específico,
mas onde está esse conhecimento: dentro de cada um de nós, e ensinou que era
preciso se questionar, refletir, estar disposto acima de tudo a reconhecer que
se está errado, e ainda assim não desistir de se questionar, de buscar, pois
depois da dor de se reconhecer no erro e no engano dos pré-conceitos, eis que
virá à luz novas ideias, em um processo continuo de iluminação do mundo, o
nosso próprio mundo interno.
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